Associações, clubes? Xá com a gente!

Vocês devem ter notado, depois de mais de 112 anos que estamos no Brasil, que nós os japoneses somos chegados a uma festinha, de família ou com amigos, celebrando datas comemorativas de tudo quanto é jeito e forma, qualquer motivo enfim, é um pretexto para o nosso pessoal se juntar. Gostamos de estar em grupos!

Nos anos 50 quando estávamos tateando e procurando o nosso lugar na comunidade brasileira, a formação de grupos era uma etapa nesse processo de assimilação. E a coisa funcionava mais ou menos assim, juntava uns dez de nós e pronto, era formado mais um clube. Simples.

Uma brincadeira dançante no kaikan de Duartina, junho de 1958.

Na Grande São Paulo cuja população nikkei os japoneses e descendentes – aumentava com a migração da grande maioria de nós, que vínhamos do campo e de todas as partes do interior, os anos 50 e 60 testemunharam uma explosão desses clubes.

Um dos maiores era o GECEBS, que significa algo como Grêmio Esportivo e Cultural de Ex Bastenses, fundado por, adivinhem – ex moradores de Bastos, que parece estar ativo ainda hoje, e formou grandes atletas de beisebol e softbol. Tinha o Clube da Turma e Arelux, com as suas sedes num mesmo prédio, na Liberdade. O Clube Paratodos na Moóca, o Cereja perto do Mercado Municipal, o Piratininga em Pinheiros, o Anhanguera na Lapa, o Ética na Bela Vista e clubes japoneses praticamente em quase todos os bairros da Capital e nas cidadezinhas do interior, onde viviam japoneses. Em Duartina, era a Associação Nipo Brasileira que tinha o seu kai-kan (clube) num antigo prédio conhecido como Secador. É dessa época também, a fundação do Nippon Country Clube, que nasceu como Bonsucesso CC, um bairro de Arujá onde está situado até os dias atuais, talvez o mais eclético, variado e bem sucedido de todos. Teve casos de empresas e cooperativas que criaram clubes e um dos casos especiais é o Coopercotia, o clube, que felizmente conseguiu sobreviver apesar do fechamento da cooperativa que o havia criado.

Todos esses clubes tiveram muita importância no processo de formação pessoal de nós nisseis. Quase todos eles tinham o seu departamento cultural, recreativo e esportivo, dando alternativas para o pessoal tímido, que nos caracteriza (ou caracterizava, pelo menos no meu tempo…), procurar o seu caminho e de lambuja, receber um baita de uma injeção de auto-estima.

Éramos todos associados a um desses clubes, jogando futebol de salão, beisebol, judô ou tênis de mesa, ou participando das atividades sociais ou culturais. E se não fôssemos associados, participávamos de algum evento promovido por essas agremiações. As brincadeiras dançantes animadas por pequenos conjuntos eram as mais populares.

Além disso, um dos eventos mais concorridos eram os nodojimans, que eram festivais de música japonesa, com uma pequena orquestra acompanhando os cantores que concorriam em diversas categorias. É, não tinha karaokê ainda…

Participávamos tambem dos undokais, um festival poliesportivo, mais na base de corridas, que geralmente ocorriam durante a semana da comemoração do aniversário do antigo imperador, o Hirohito, que coincidia com a comemoração do dia do Trabalho.

Muitos clubes desapareceram quando esse processo não era mais necessário pois com o correr do tempo estávamos cada vez mais integrados na comunidade brasileira, ou na comunidade gaijin (não japonesa, digamos assim) e fecharam ou estão fechando as portas por falta de associados ou por não conseguirem se adaptar aos novos tempos. Entretanto, muitos sobrevivem ainda hoje em dia, abertos a toda população, sem a necessidade de que para ser associado, você seja um japonês ou descendente. Floresceram associações das províncias japonesas e de karaokês. E assim, hoje, em São Paulo, capital, sobraram apenas cerca de 120 clubes.

Será que existe algum outro grupo étnico com mais clubes que a gente? Duvido. É ou não é uma coisa de louco?!